Análise da coexistência de serviços de radiodifusão e LTE na faixa de 700MHz no Peru

Da Backhaul Advisory para a GSMA – 2015

O Dividendo Digital é fundamental para melhorar a cobertura, universalizar o acesso à Internet e reduzir a exclusão digital.

O Dividendo Digital (ou a faixa de 700 MHz) é a porção do espectro situada entre 698 – 806 MHz. Atualmente utilizada para a radiodifusão no Peru, essa banda foi identificada pela UIT para a prestação de serviços de telefonia móvel. Esta faixa vai permitir uma melhor cobertura de banda larga em áreas suburbanas e rurais, contribuindo para a redução da exclusão digital. Também permitirá melhorar a qualidade do serviço dentro de casas e edifícios. Além disso, sua atribuição para operadoras móveis contribui para o crescimento da economia, estimula os investimentos no setor, gera empregos e incentiva a inovação.

O Ministério de Transporte e Comunicações (MTC) do Peru decidiu atribuir esta banda para serviços móveis, em sintonia com os países latinoamericanos. A banda foi dividida em 3 blocos de 15 + 15 MHz e a previsão é que seja leiloada em 2016.

Análise da ocupação de estações de TV na banda de 700 MHz por área

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Nenhum dos três blocos do espectro na banda de 700 MHz está disponível para utilização em âmbito nacional para serviços de banda larga móvel, e atualmente essa banda está sendo utilizada para sinais de TV analógica. As áreas de maior criticidade pela alta ocupação da banda são o sul e o norte do país (que contemplam 48% da população nacional). Aí existem 32 estações transmissoras de TV operando nos canais 53, 55, 57 e 59.

Essa situação motivou o estudo encomendado à Consultoria Backhaul Advisory, em conjunto com a Universidade de Valencia. Foram analisadas as condições técnicas para assegurar a coexistência de serviços de banda larga móvel LTE e radiodifusão de TV analógica e digital. O estudo chega a conclusões e recomendações para a limpeza e atribuição da banda de 700 MHz em 2016.

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Download: Análisis de la situación actual y estudio
de coexistencia de sistemas de radiodifusión y servicios LTE en la banda de 700MHz en Perú

 

Atualmente a banda de 700 MHz não está disponível para uso pelos serviços móveis no Peru.

Para poder fazer uso dessa Banda por serviços móveis, é necessário realocar os 32 sinais transmissores, em âmbito nacional, de TV analógica (especificamente os canais 53, 55, 57 e 59). Além disso, existem outros 10 sinais de televisão que se encontram no canal 51 (canal adjacente), e que fica muito perto do espectro para celulares.

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Existem certos cenários que devem ser considerados para a migração eficiente e correta utilização da banda para serviços móveis. Por um lado, a convivência em faixas adjacentes (entre sinais de TV que são realocados abaixo dos serviços de 698 MHz e dos móveis que estão acima), e a coexistência dentro da faixa de 700 MHz (sinais de TV continuam operando acima dos 698 MHz).

nueva imagen canal 1No primeiro caso, é preciso considerar o risco de interferência com a banda adjacente gerado no enlace ascendente de LTE (ou uplink, que é a comunicação entre o dispositivo e a radiobase). No canal 51 (último canal anterior do espectro atribuído à telefonia móvel) existem outras 10 transmissoras que gerariam interferência com o primeiro bloco da banda. Esses sinais também deveriam ser realocados para se usar o Dividendo Digital em sua totalidade, evitando interferência e otimizando sua utilização para celular.

Por outro lado, existem mais de 350 autorizações para serviços de TV no espaço para onde deveriam ser mudados os sinais que ocupam a banda de 700 MHz (canais 14 ao 51). Portanto, de acordo com o Plano Diretor de Migração para a Implementação da Televisão Digital Terrestre, em algumas regiões não haveria frequências disponíveis onde realocar os sinais de TV migrados da banda de 700 MHz.

Recomendações para limpar e atribuir a banda de 700 MHz em 2016: o papel do Estado, o ajuste do plano de migração e liberação no canal 51.

O Estado peruano, por meio do MTC, deveria ser o único a coordenar e assegurar a migração dos sinais, e não os radiodifusores ou operadoras móveis. Uma migração eficiente é tão importante quanto a decisão de atribuir esse espectro aos serviços móveis, e o planejamento, implementação e controle devem ser de responsabilidade do estado para mediar entre as partes diante da eventualidade de inconvenientes ou atrasos.

O Plano Diretor de Migração deveria ser ajustado para incluir a migração dos sinais do canal 51 e para ajustar a atribuição de frequências da parte inferior da banda UHF, e assim incluir todas as transmissões analógicas migradas.

Os custos de migração e mitigação de interferência TV-LTE deveriam ser deduzidos da arrecadação obtida no leilão da faixa de 700 MHz, sem necessidade de gerar uma carga adicional para o Estado. A estimativa de custo da consultoria responsável pelo estudo varia entre US$ 4,4 e 5,4 milhões.

Análise dos custos associados à migração de sinais de TV

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O planejamento antecipado e detalhado do projeto de migração envolve a criação e formalização de um comitê de coordenação de confiança para definir e aprovar as condições técnicas, legais e contratuais. Isso deve ser acompanhado por uma campanha de informação em paralelo para que o usuário compreenda seu papel nesse processo de migração.

A decisão do Estado peruano, por meio do MTC, de atribuir o Dividendo Digital para os serviços móveis terá um impacto significativo na sociedade. No entanto, para evitar atrasos desnecessários na atribuição desse espectro, para que as operadoras móveis possam começar a implantar os serviços de 4G, e para que os cidadãos peruanos não tenham problemas para continuar a ver sua programação favorita na TV, é fundamental que a banda de 700 MHz esteja completamente limpa e livre de interferência.

Mais informações: Relatório da GSMA sobre coexistência de serviços LTE e Televisão no Brasil