Momento crítico no Brasil antes da consulta de 6 GHz

A conectividade sem fio é parte crucial da infraestrutura brasileira e as decisões que tomamos sobre a faixa de 6 GHz devem ser baseadas em um profundo conhecimento de como nosso mercado funciona.

O acesso à faixa de 6 GHz tem alta prioridade para as operadoras móveis brasileiras e terá um papel crucial na busca para aumentar a capacidade dos sistemas 5G. A disponibilidade de espectro suficiente em faixas médias, como 6 GHz, terá impacto sobre a capacidade do 5G de diminuir a brecha digital: pode diminuir a densidade da rede e diminuir o custo da banda larga.

No momento em que a Anatel considera sua consulta sobre 6 GHz, aqui estão três grandes questões que devem formar a espinha dorsal do debate público:

  1. A futura expansão de 5G no Brasil depende de 6 GHz

Os dias de Wi-Fi offloading estão contados nos mercados de telecomunicações mais desenvolvidos. Uma tendência acelerada pelo lançamento do 5G. O 5G não oferece apenas velocidades que podem competir com qualquer tecnologia sem fio (quando implementado com espectro suficiente), mas também oferece privacidade e segurança superiores. É importante ressaltar que os usuários podem confiar no seu chip para autenticação, em vez de se conectar a redes desconhecidas e não seguras.

No Brasil ainda pedimos a senha do Wi-Fi em restaurantes, mas em mercados 5G, e conforme o 4G atinge a maturidade, isso está se tornando uma coisa do passado. Isso acontece porque a conectividade móvel – LTE e certamente 5G NR – é mais rápida, simples e segura.

Além disso, à medida que os mercados amadurecem, os pacotes de dados se tornam mais abrangentes, enquanto a maior eficiência espectral de 5G NR significa um custo menor por MB. Isso reduz a necessidade de Wi-Fi em espaços públicos e aumenta o uso de redes celulares usando Wi-Fi dentro da própria rede: fornecendo um link fixo 4G ou 5G para roteadores Wi-Fi em residências e empresas.

A falta de acesso a espectro no Brasil comprometerá o futuro dos serviços 5G. Temos alguns dos maiores e mais densamente povoados centros urbanos do planeta. Um estudo recente da empresa de consultoria Coleago[1], com sede em Londres, descobriu que São Paulo não precisaria apenas de 700 MHz de espectro de 6 GHz para 5G, mas, em certos cenários, a cidade precisaria de toda a faixa – 1,2 GHz de espectro.

  1. 5G no Brasil continuará a melhorar o envolvimento digital

A América Latina continua a adotar a banda larga móvel. Possui uma das maiores taxas de uso de aplicativos do mundo. O uso de dados por meio da banda larga móvel está aumentando rápidamente conforme o 4G amadurece – dobrando de 2018-2019 para 4,7 GB por assinante por mês em todo o continente.

Os brasileiros adoram conectividade, mas contamos com o acesso sem fio para nossa banda larga muito mais do que em países com infraestrutura de fibra universal. Como todos os países com mercados de telecomunicações em rápido desenvolvimento, precisamos manter os custos baixos e a tecnologia sem fio também tem um papel a desempenhar nisso. No Brasil, o 4G atingiu massa crítica, tornou-se a tecnologia dominante e impulsionou um país de usuários de smartphones. A GSMA estima em 88% a adoção de smartphones no Brasil até 2025 e 98% dos usuários conectados em 4G ou 5G até então. Enquanto as operadoras refinam suas ofertas comerciais de 5G, benchmarks críticos da indústria, como o lançamento do iPhone 5G, estão ocorrendo. Precisamos respaldar essa demanda crescente com espectro.

  1. Brasil precisa de backhaul

A proteção dos serviços de backhaul existentes é crucial em toda a faixa de 6 GHz. Existem mais de 20.000 links que precisam ser protegidos nesta faixa. Não são apenas as operadoras móveis que contam com esse espectro para backhaul: links de micro-ondas operam em todo o Brasil. Eles fornecem conectividade de link fixo e uma de suas funções é conectar as áreas rurais ao resto do país para atender às necessidades básicas de telecomunicações de alta velocidade.

Ao contrário do 5G licenciado, o uso do Wi-Fi em 6 GHz pode colocar tudo isso em risco: como um serviço não licenciado, qualquer um poderia comprar um roteador em uma loja local e instalá-lo em qualquer lugar. No momento, não há estudos, análises ou testes de compartilhamento que mostrem que o Wi-Fi pode coexistir com o backhaul e a possibilidade de usar toda a faixa de 6 GHz para Wi-Fi no Brasil é motivo de grande preocupação entre as operadoras brasileiras. O espectro que pode ser usado como backhaul enfrentaria interferência do Wi-Fi, justamente o serviço que deveria se conectar.

Por esses três motivos, a GSMA apoia um desenvolvimento balanceado da faixa de 6 GHz no Brasil, permitindo espectro tanto para Wi-Fi quanto 5G. Isso veria a faixa 5925-6425 MHz discutida para uso não licenciado, enquanto 6425-7125 MHz seria usada para 5G licenciado. Esta é a opção mais segura daqui para frente e irá garantir que ambas as tecnologias possam florescer, uma vez que não é uma decisão que será facilmente revertida. Esperamos que seja encontrada uma solução balanceada para a faixa de forma a trazer benefícios a todos os consumidores brasileiros.

À medida que esse debate ocorre no Brasil, a GSMA espera se engajar ainda mais nessas questões em todo o mundo. Queremos garantir que a capacidade da rede esteja presente para o futuro digital de todos.

Leia nosso primeiro post sobre o tema aqui.

[1] The 6 GHz opportunity for IMT, Coleago Consulting, August 2020.