Wireless Intelligence: redução no crescimento da lucratividade obriga operadoras da América Latina a buscarem oportunidades além dos serviços de voz

O lucro das operadoras de telefonia móvel na América Latina atingiu 107 bilhões de dólares (cerca de 211 bilhões de reais) em 2012, crescendo 9% ao ano e colocando a região no segundo lugar em velocidade de crescimento no mundo (atrás da Ásia). A América Latina representou cerca de 10% das vendas globais para as operadoras de telefonia móvel em 2012, um aumento considerável sobre os 5% que representava há dez anos.

Com uma taxa de penetração de apenas 52% na região, calculada no ano passado, há, ainda, muito espaço para crescimento. Entretanto, a taxa de crescimento anual de nove porcento nos lucros com serviços de redes móveis nos últimos cinco anos representa apenas pouco mais de um terço daquela alcançada no período entre 2002 e 2007 (veja o gráfico). Esta tendência demonstra que, mesmo com o evidente potencial de crescimento, o mercado móvel na América Latina entrou em uma nova fase de desenvolvimento, caracterizada por níveis mais altos de maturidade e intensificação da concorrência.

O CEO da America Movil, Daniel Hajj, descreveu, recentemente, o Brasil como “um mercado muito, muito competitivo”. Durante o ano de 2011 e boa parte de 2012, a America Movil optou por não reduzir suas tarifas no país em resposta à crescente concorrência, a fim de proteger suas margens. Entretanto, sua receita bruta e fatia de mercado foram prejudicadas, o que resultou em uma virada na decisão da empresa, em agosto de 2012, quando Hajj declarou que a empresa decidirá por reduzir seus preços no Brasil a fim de “tornar-se muito mais competitiva no setor móvel”. Posteriormente, ele complementou: “Nós oferecemos preços muito melhores para toda a nossa base, isto significa que percebemos uma redução nos lucros… nossa lucratividade, por minuto, diminuiu 28% no ano passado”.

Na medida em que a concorrência aumenta em mercados-chave em toda a América Latina, grandes operadoras de telefonia móvel mudaram seu foco de fatia de clientes para fatia de lucros. Por exemplo, o foco das operadoras brasileiras mudou da maximização de novos negócios para a retenção de contratos com clientes de alto valor, uma mudança que a Vivo, da Telefonica – líder de mercado no Brasil – definiu como “uma abordagem comercial mais seletiva, focada em valor”.

A chave, que abre maiores lucros a partir de contratos com os clientes, está em encorajar os assinantes a adotarem smartphones e serviços de dados para dispositivos móveis. A Telefonica alega que, em média, os clientes que usam smartphones na região garantem um aumento na lucratividade média por usuário e na margem geral em um fator maior que 1,5 e 1,3, respectivamente, em comparação com usuários de telefones normais. Em seu relatório do quarto trimestre fiscal de 2012, a America Movil, a maior empresa pan-regional no mercado de telefonia móvel, registrou um aumento cumulativo anual de 33% na lucratividade em serviços de dados para dispositivos móveis, representando um terço de todo o lucro obtido com serviços móveis. Uma empresa menor, a Telecom Argentina, testemunhou um aumento anual de 29% em serviços de dados móveis domiciliares, representando 1,1 bilhão de dólares (2,17 milhões de reais), cerca de 43% do total de sua lucratividade com serviços móveis; seu CEO, Franco Bertone, afirmou que “nove em cada dez pesos neste aumento anual vem do volume de dados e da base de clientes, não de preços”.

Enquanto o crescimento no lucro em serviços de dados móveis permanece forte, os lucros vindos de serviços de voz estão sob pressão; a Telefonica observou, recentemente, que o crescimento nos modelos baseados apenas em voz não serão sustentáveis no médio prazo. A America Movil declarou que, no México, “a lucratividade com serviços móveis de voz caiu 3,8% em função do forte desaceleramento econômico observado no período e a contínua redução de preços, tal como a queda de 19,7% do preço médio por minuto falado no primeiro trimestre do ano”. Isto refletiu-se na lucratividade média por usuário da operadora em toda a região, que caiu 1,7% ao ano até atingir uma média de 12,94 dólares (R$ 25,50, aproximadamente) no quarto trimestre de 2012. Ainda assim, a lucratividade média por assinante (ao invés da lucratividade média por conexão), manteve uma trajetória crescente de 1% em 2012. Operadoras como a Millicon conseguiram evitar a tendência de queda da lucratividade média por usuário; seu CFO, François-Xavier Roger, alegou que “a lucratividade média por usuário cresceu 3%, na moeda local, como resultado da manutenção de nosso foco em dados e outros serviços de valor agregado”.

A concorrência está forçando as operadoras de telefonia móvel na região a examinar suas operações em busca de potenciais reduções de custos, especialmente com relação a custos de rede. Com a disponibilização de redes 3G e 4G, que demandam quantias significativas de despesas capitais, estamos observando mais acordos de compartilhamento de redes, por exemplo entre a TIM Brasil e a Oi. Uma série de operadoras está, também, buscando entregar a operação de suas torres de rádio a terceiros. Em dezembro. A Vivo vendeu 800 torres para a SBA Communications, enquanto a Nextel está em negociações para vender suas torres no México e no Brasil; espera-se que ambas as transações estejam concluídas neste ano.

Lucratividade e crescimento de operadoras de telefonia móvel, América Latina, 2002-2012

Fonte: Wireless Intelligence